Show do Bob Dylan no Rio tem os ingressos mais caros do mundo

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No próximo domingo, quando o descabelado Bob Dylan subir ao palco do Citibank Hall, no Rio de Janeiro, para dar voz a sucessos como “Like a Rolling Stone”, estará diante da plateia que mais dinheiro desembolsou em todo o mundo para vê-lo cantar neste semestre.

E, nesta comparação, entram nada menos do que os 26 shows que o roqueiro americano fará em dois continentes até o dia 22 de julho — uma turnê para comemorar os 50 anos de sua lendária carreira.

Para participar da festa que Dylan fará em solo carioca no dia 15, o fã carioca precisa dispôr de pelo menos R$ 500 — o valor da entrada inteira mais barata oferecida pela casa de espetáculos da Barra da Tijuca, uma cadeira lateral.

Esse preço, no entanto, é mais do que o dobro do que é cobrado dos fãs de Dylan em Brasília (R$ 240 para vê-lo no Ginásio Nilson Nelson no dia 17) e quase três vezes mais do que se paga em São Paulo (R$ 150 para vê-lo no Credicard Hall, dia 21).

A comparação do preço das entradas fica ainda mais dolorosa para o bolso do carioca quando ampliada para o cenário mundial. Da Áustria à Argentina, ninguém paga mais do que o Rio para ver Bob Dylan no palco. Em Salzburg, o roqueiro canta no dia 7 de julho pelo equivalente a R$ 217.

Em Berlim, em 2 de julho, por R$ 134. Aqui pertinho, em Santiago do Chile, há entradas para ver a mesmíssima turnê pelo equivalente a R$ 97 e, em Buenos Aires, por apenas R$ 83 (no câmbio de sexta-feira).

Engana-se, porém, quem pensa que o problema é Bob Dylan. A turnê que a dupla sueca Roxette faz no Brasil no mês que vem também pesa mais no bolso dos cariocas do que nos dos paulistanos e portenhos.

A entrada mais barata para ver a dupla no Rio — no dia 12, no Citibank Hall — custa R$ 150. No Credicard Hall de São Paulo, 48 horas antes, sai por R$ 70, e, em Buenos Aires, em 24 de abril, R$ 62.

Com os ingleses do Duran Duran, a cena se repete. Para o show do dia 30, no Rio — mais uma vez no Citibank Hall —, a entrada mais em conta vale R$ 180. Na capital paulista, em 2 de maio, R$ 130, e, em Buenos Aires, três dias depois, o equivalente a R$ 66.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO concluem que é assim que respinga na cultura os títulos que o Rio ostenta hoje em dia: o de ser a segunda cidade mais cara das Américas (segundo a consultoria britânica ECA International) e a 12 do mundo (de acordo com pesquisa feita pela consultoria Mercer). É o preço — alto — de ser o coração artístico e cultural de um país em expansão.

— O Brasil é hoje um dos maiores mercados consumidores de shows no mundo — diz Pedro Seiler, um dos fundadores do sistema de crowdfundig Queremos. — Quando o empresário ou o agente de um músico internacional vê a oportunidade de fazer um show por aqui, aumentam na hora o valor dos cachês.

Leonardo Ganem, diretor-geral da Geo Eventos, empresa responsável pela primeira edição do festival Lollapalooza no Brasil, chama a atenção para um segundo motivo:

— A competição entre as produtoras brasileiras anda acirradíssima. Para trazer o Foo Fighters ao Lollapalooza neste fim de semana, por exemplo, disputamos com outras duas empresas por uns três meses. Foram quatro idas e vindas de propostas, e o preço final do cachê da banda acabou duas vezes maior do que o original. É claro que isso influencia no valor da entrada, certo? E, não que eu esteja propondo isso, mas está aí um cartel que seria bem útil para o público (risos). Com práticas menos canibais entre os produtores brasileiros, os cachês internacionais seriam menores, e as entradas, também.

O ingresso do festival Lollapalooza, que reuniu 50 bandas em São Paulo no fim de semana, custou, aliás, R$ 300.

Na edição chilena, que aconteceu no início deste mês com 62 bandas, a entrada valia o equivalente a R$ 170.

— Mas o Chile é do tamanho de Campinas! — defende Ganem. — Aqui tem mais gente querendo ingresso, e as curvas da oferta e da demanda se cruzam muito acima.

O produtor Bernardo Amaral, que atua como booker da HSBC Arena, na Barra da Tijuca, vai na mesma direção:

— Oito em cada dez shows que fazemos aqui tem bilheteria esgotada. Tem gente pagando para ver esses shows no Rio — ressalta.

Para Amaral, o “grande problema” da cidade é o amplo uso da meia entrada. Segundo o produtor, é ele que faz com que o ticket médio — valor usado pelas produtoras de shows para calcular o preço dos ingressos — suba, elevando consigo o valor da entrada.

— Enquanto em São Paulo a meia entrada representa entre 30% e 40% das bilheterias, no Rio, pode oscilar perto de 70%. No show do Green Day na cidade, 65% das entradas foram meia. Em São Paulo, rondou os 30%. No caso da Amy Winehouse, foram 71% versus 30%. É claro que isso afeta o valor cobrado.

Em miúdos, a lógica da meia entrada no Rio é a seguinte: quem paga o valor cheio da entrada inteira paga bem mais pelo ingresso pois a maioria esmagadora do público carioca certamente vai usufruir de descontos de até 50%.

Um terceiro motivo para o Rio ter se descolado do resto do país (e do mundo) no quesito preço de entrada de show internacional tem a ver com o baixo número de prestadores de serviço atuando na cidade, acrescenta o produtor Tuca Pedreira, que trouxe Ben Harper e Dave Matthews Band ao país recentemente.

— O Rio tem muito menos opções de fornecedores do que São Paulo, logo há menos concorrência — lembra. — Fora isso, há menos hotéis disponíveis no Rio no fim de semana, e eles são mais caros. As permutas são mais difíceis. Por último, está o fato de que as principais empresas de som estão em São Paulo e, às vezes, é preciso deslocar equipamentos.

Pedreira ainda enxerga mais uma possível razção para o ingresso de show no Rio estar mais caro: historicamente, a cidade tem “um mercado menor e mais instável”.

— Em shows grandes, não se vê isso porque eles lotam em qualquer lutar. Mas, em shows médios, a expectativa de público e o público efetivo é sempre maior em São Paulo, logo o risco que o produtor corre por lá é bem menor.

O produtor independente tem, porém uma visão otimista. Acredita (e defende) que a alta dos preços não veio para ficar.

— Há muito pouco tempo, a cidade reclamava de não receber shows. Agora entrou na rota e está vivendo um momento aquecido. À medida que isso se estabilizar, o risco dos produtores vai cair e será possível ter mais certezas quanto ao público carioca. Quando isso acontecer, os valores das entradas deverão cair.

fonte: O Globo


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