Bebê nasce sem gene que provoca câncer

Nasceu em Londres (Inglaterra) o primeiro bebê que não tem o gene BRCA1, apontado como o responsável pelo desenvolvimento do câncer de mama e de ovário. De acordo com o hospital do University College, o procedimento usado foi o diagnóstico pré-implante, que consiste na inseminação in vitro (proveta), quando é escolhido o embrião com as características esperadas.

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No caso, a intenção era evitar que uma variação BRCA1 acontecesse, o que aumentaria o risco de as duas doenças se manifestarem na menina. Em Goiás, especialistas em Genética temem que a experiência possa não ter sucesso devido à possibilidade de mutação de outros genes, que podem causar o mesmo problema.

Três gerações do pai do bebê, que não tiveram divulgados os nomes nem a data de nascimento, apresentaram tumores: avó, mãe, irmã e prima. A mãe da criança, que tem 27 anos, resolveu recorrer à escolha genética em junho de 2008, depois de constatar o histórico familiar do parceiro, que também é portador do gene. O diretor da Unidade de Reprodução Assistida do hospital, Paul Serhal, afirmou que a menina não terá o risco de desenvolver câncer de mama ou de ovário quando for adulta.

O procedimento tirou do bebê a margem de chance de desenvolver as doenças, que era entre 50% e 80% de possibilidade de ter o tumor. A equipe médica declarou que examinou “diversos embriões” para selecionar os que estavam livres do gene BRCA1. Os dados mundiais são de que cerca de mil crianças tenham nascido com uso do método de seleção genética que elimina a possível formação de outras doenças, como a de Huntington e a fibrose cística.

Esse diagnóstico genético pré-implantacional é proibido na Alemanha, Áustria, Itália e Suíça. Tem autorização para detectar doença incurável na França e é permitido em países como Bélgica, Dinamarca, Espanha e Reino Unido, que em 2006 ampliou a possibilidade de recorrer ao trabalho para inibir a mutação genética do BRCA1. No Brasil, já é utilizado o procedimento, mas não é uma prática rotineira, informou a geneticista, doutora em Biologia e professora da Universidade Católica de Goiás (UCG) Daniela de Melo e Silva. Ela afirmou que “questões éticas e religiosas” impedem que a aplicação do método seja comum.

O tratamento específico em genes de seres humanos existe pelo trabalho do Projeto Genoma Humano (PGH), que começou em 1990 e fez o mapeamento da sequência genética. Um dos objetivos da iniciativa era descobrir quais eram as informações do DNA responsáveis pela ocorrência de doenças como câncer, Parkinson e calvície sem sucesso.

Daniela, que se considera “realista” sobre as pesquisas genéticas e o tratamento diagnostical, conhecido como terapia gênica, disse não acreditar na total chance de esse bebê viver sem o desenvolvimento de câncer um dia. “As doenças aparecem por mutação de genes”, explicou a geneticista. Ela afirmou que também não crê que haverá uma erradicação das doenças pelos futuros resultados das pesquisas, pois não é possível controlar as modificações. Além disso, Daniela declarou que outros genes também podem ser responsáveis pelo surgimento do câncer de mama.

Casos isolados são mais comuns nos dias atuais

O maior problema apontado pela geneticista Daniela de Melo e Silva para que essa experiência inglesa se torne eficiente no futuro, quando a criança envelhecer, é o tipo de câncer ao qual ela teria predisposição sem o uso da terapia gênica. “De 1% a 3% dos casos são de origem familiar. Hoje o caso mais comum são os esporádicos (isolados)”, lembrou. De acordo com Daniela, os esporádicos ocorrem pela mutação em outros genes, por problemas associados, tabagismo, costumes, alimentação e interferências ambientais. Para ela, é preciso esperar a menina crescer para verificar se a experiência realmente dará certo. “Acredito na probabilidade menor, mas erradicar as doenças não.” A geneticista disse que a tendência é que novas doenças existam.

Mesmo com a declaração de ser esperançoso quanto às pesquisas genéticas, o doutor em Ciências Médicas no Japão e professor de Bioquímica da Universidade Católica de Goiás (UCG) Flávio Monteiro Ayres afirmou que a novidade inglesa é apenas uma perspectiva para a terapia gênica. “Continuo esperando, mas não uma coisa para agora.” Ayres disse que não é possível declarar que o procedimento terá sucesso, pois o trabalho é experimental. De acordo com o professor, são “vários” fatores que implicam no surgimento de câncer.

Com a mesma visão dos outros dois professores, o biomédico do Laboratório de Genética da Secretaria Estadual de Saúde (Lagene/SES), vinculado à Superintendência Leide das Neves, Gustavo Pinto Silva disse que ao modificar um gene pode haver início de outro processo, como a alteração do genoma (informação contida no DNA) e a ocorrência de problemas. Segundo o biomédico, a quebra da sequência do DNA acarreta possíveis problemas.

Ele afirmou que as pesquisas genéticas podem identificar as doenças e os genes referentes a cada patologia. Mas Gustavo acredita que apenas com estudos futuros sobre o resultado da experiência do bebê em Londres devem apontar os efeitos dessa novidade. “Outra pessoa submetida ao mesmo método em outro lugar, com diferente clima e fatores ambientais pode apresentar reações diferentes, sem contar a transformação constante pela qual passa o genoma”, informou.


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